quarta-feira, 29 de agosto de 2007

AS MÚSICAS DO SEU CORAÇÃO...

Vertical & The Frogs, março de 2007.


Capa do CD Santa Música, de Erasmo Carlos, de 2003. Um dos seus melhores e quase ignorado pela indústria brasileira do entretenimento.

A música é sagrada.

Digo isso de maneira enfática e embasada nas mais espiritualizadas linhas da história da Humanidade.

Além de tudo o que ela pode fazer de transformações sociais e de costumes pela vida das diferentes gerações de pessoas entre séculos vividos, a música já foi receita para “acalmar” o rei Saul, que ao se sentir angustiado e atormentado mandava chamar o jovem Davi para tocar harpa para ele. Era a única solução para as crises demoníacas do conturbado rei.

Não cansamos de encontrar nos salmos, referências aos músicos, aos instrumentos e ao poder especial deste “novo cântico” oferecido a Deus como gratidão, como honra e como alegria. Os que mais gosto: 40, inclusive nome de uma música do U2, e o 33 que diz, de maneira quase didática: “...Louvai ao Senhor com harpa, cantai a ele com o saltério e um instrumento de dez cordas. Cantai-lhe um cântico novo; tocai bem e com júbilo...”

Podemos afirmar que não está determinado para fazermos “de qualquer jeito” ou com “qualquer intenção”. Também não venha me classificar como religioso por isso, pois a música transcende qualquer visão religiosa. A música é uma expressão interna profunda presente no nosso dia-a-dia, mais do que um ritual ou um culto, seja ele umbandista (os tambores), budista (os mantras), rasta (o reggae), evangélico (os “pastiches” enfado/musicais) ou católicos (a eterna ladainha tristonha), ela é expressão, é união, é alívio, é alegria, é vida, é movimento. A música, assim como Deus, é !

Quais músicas estão no seu baú afetivo ? Quantas delas estão presentes na sua história de vida ? E por que, então, o simples ato de se fazer música, boa, com qualidade e com sinceridade (ou júbilo ?) não é o que determina a longevidade das carreiras e dos espaços para exposição das obras, por um todo, com igualdade, com democracia ? As concessões de rádio e TV não são públicas ? As pessoas são idiotas, por isso, a maioria da população não conhece Edu Lobo, Sérgio Ricardo, Marcos Valle, Baden Powell ? - Hum, essas questões estão ficando muito complexas... –

Há alguns dias, um amigo me disse a respeito das músicas que faço: “Seu som parece daquela época em que “neguinho” fazia música pela música e não pensando em emplacar primeiro no mercado ou fazer sucesso fácil.”

Me senti muito bem, pois ele captou a essência, mas me senti um fóssil também , pois possivelmente por essa ótica de quem conhece o meio da música, as canções e as mensagens que procuro colocar nas músicas ficarão restritas a um grupo de amigos que busquem por algo novo.

Não me dei, ainda, por vencido, pois acredito na transcendência das coisas e nos “milagres”; apesar da (in)cultura brasileira e das regras, vamos dizer aqui, nebulosas do mercado musical, ainda dá para conhecer a música de parte dos compositores citados ali em cima e, por que não, as novidades quentes de uma geração que não faça da atitude, da “contemporaneidade” e da honestidade meras bandeiras de marketing.

Para ouvidos interessados, duas canções, uma da safra inédita Aden Santos & Daniel Lanchinho- Músicas do Seu Coração -, uma homenagem aos tempos que se “fazia música pela música” e a outra da safra premiadíssima Erasmo Carlos, aqui sem o Roberto – Santa Música – que talvez expresse um pouco o que significa a música para a vida de muitas pessoas, incluso eu nesta lista de pessoas.

Selecionar o que entra no nossos ouvidos (e olhos) é algo a que nós temos direito e obrigação fazer. Não vamos mais deixar que façam isso por nós, com o risco de ficarmos com as nossos cérebros e existências danificadas por entulho esgoto/cultural.

http://www.badongo.com/file/4194186 - Músicas do Seu Coração

http://www.badongo.com/file/4194214 - Santa Música




Aden Santos


segunda-feira, 20 de agosto de 2007

" É PRECISO "SALVAR" DEUS DAS RELIGIÕES..."

Com respeito a tudo tem sido feito pelas igrejas e religiões visando trazer o Homem para mais perto de Deus, muitas idéias interessantes têm vindo de setores variados de experiência humana.

Mais do que defender pontos de vistas e “doutrinas”, algo certamente fadado ao separatismo, exclusão ou limitações, surgem, cada vez mais, pensamentos que visam diferenciar Deus das religiões, e não retratar, exclusivamente, “o” deus de cada religião.

A experiência com Deus não está restrita a este ou aquele lugar, pois não há lugar onde Deus não “esteja”, não há nada “fora” da idéia de Deus. Deus é tudo, e este “tudo” não isola somente as boas aventuras. Tudo o que existe é manifestação de Deus; e necessário é transcender a limitada compreensão humana do “deus bonzinho” ou do “deus castigador”.

Acrescento a este argumento o fato de Jesus jamais ter tratado sobre religião nas suas mensagens a todos nós. Sua proposta é muito maior do que a observação de meros rituais e procedimentos de calendário. A palavra deixada pelo Cristo é para cada um, individualmente, fazer sua viagem de transcendência, sem necessidade de intermediação, “apenas” : ...tendo os olhos direcionados em Jesus, autor e consumador da nossa fé...(Heb 12:2).

A teologia nos trouxe à compreensão boa parte das propostas das Escrituras, mas não todas, pois uma parte é resultado de uma busca profunda e da pura experiência com Deus. Há coisas que pouco se explicam, pois foram destinadas a serem vivenciadas, sem teorias, sem dogmas, sem regras e sem hierarquias. Por este aspecto é preciso “salvar” Deus das religiões, por menos sentido que isto, de fato, faça.

Recorrendo mais uma vez à arte como expressão espiritual, deixo uma sugestão muito bacana: o álbum duplo Theology, da cantora irlandesa Sinéad O' Connor.

Sinéad se diz católica mas muito interessada no conhecimento de outras religiões, especialmente o Rastafarianismo, Hinduísmo e o Judaísmo, mas acima de tudo isso, afirma ser mais uma “pessoa que ama a Deus” do que uma pessoa que ama alguma religião, pois acredita que Deus e religião são duas coisas distintas.
Este amor a Deus a fez, em 1992, no programa Saturday Night Live, da TV Americana, lançar fora uma foto do Papa João Paulo II, em protesto aos escândalos de pedofilia encobertos pela Igreja Católica, fato que lhe causou vaias e perseguições, além de um afastamento voluntário de uma carreira comercialmente muito promissora na época.

Lançou em 2005, o álbum Throw Down Your Arms, todo voltado para o reggae e o Rastafarianismo, os quais tratarei em outro post. Este novo, Theology, fala especialmente sobre o Velho Testamento, com temas como: “Jeremiah”, “Isaiah (If You Had a Vineyard)”, “Psalm 33” e “Psalm 137 (Rivers Of Babylon)”, música que tocamos no último show de reggae do Vertical & The Frogs, na Thélos ACC.

Com o auxílio luxuoso dos links que o amigo Lanche enviou, ofereço a quem quiser buscar mais informações na fonte, uma entrevista com a cantora e o disco todo para download, garantindo que se trata de música de primeiríssima qualidade, não uma música religiosa, mas uma música para Deus.

Entrevista : http://www.beliefnet.com/story/220/story_22049.html

Disco : http://www.opus666.com/sinead-oconnor-theology/

Para concluir, envio também uma música inédita da safra Aden Santos & Daniel Lanchinho :
O Q Chamamos Deus

http://www.badongo.com/file/4101303

Saudações musicais a todos !

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

MEMÓRIAS DA ESTRADA #1

Caravana Rolidei, trupe do filme Bye Bye Brasil, de Carlos Diegues.


Estradas têm sido um capítulo especial na minha vida, teriam de ser páginas e mais páginas de histórias e impressões vividas em muitos anos seguidos de movimentos pelos caminhos do nosso Brasil imenso.

Durante o último fim-de-semana, a viagem até Aracruz-ES, da turnê 2007 de Wanessa Camargo, foi muito rica para reflexões e pensamentos típicos da estrada, afinal em quinze horas para ir e mais quinze para voltar a gente vive muita coisa, imagina muita coisa, lembra muita coisa; nosso baú afetivo fica revirado e ela, sempre ela, a música, não deixa de marcar sua presença absolutamente necessária (viva o Koss Porta-Pró que o Lanche me deu !)

Tenho vivido uma proximidade com Deus muito verdadeira e agradável nestes momentos, pois nas viagens estamos expostos: lidamos com situações novas, imprevistos, emoções, alegrias e tristezas. Consigo “sentir” Deus nas paisagens, nas estrelas todas mortas que brilham vivas e contemporâneas ao nosso olhar, até mesmo naqueles momentos do trabalho em que a gente pensa : “huuum, vai dar merda...”, sempre alguma força reparadora e restauradora surge materializada da oração constante para que tudo corra bem.

Tenho estado muito mais próximo a esta conexão direta com a Divindade, com o Infinito, com a Realidade do que em todos os momentos de, teoricamente, maior foco espiritual, onde os atos parecem ser rituais repetitivos de insegurança e de alívio, esvaziados desse componente que a estrada traz para a nossa vida: o momento real, o instante único, o contato com o “próximo”, que as vezes só veremos – e nos verá – naquele evento, naquele dia.

É possível ver o “trabalho de Deus” na natureza, nos animais, nas mudanças climáticas, nas reações incontidas dos fãs e dos brasileiros de cada lugar, distintos mas muito semelhantes nas suas práticas, atitudes, feiras agropecuárias, rodeios, praças públicas, vontade de agradar e de serem pedantes, mas sempre apaixonados ! -...nas vans e nos hotéis...- pedaços de brasil que formam uma nação, nitidamente em formação, mas muito arraigada em conceitos equivocados que jamais terão solução, enfim : Brasil, chão, pó e poeira !

Divagando pelas paisagens que passam velozes ao nosso olhar, pensei nas maravilhosas canções da estrada, músicas que remetem a todos esses sentimentos escritos aqui, histórias particulares de cada um, potencializadas pela observação das grandes fazendas, planícies, postos, restaurantes, caminhões, paixões, cabarés, acidentes e mais do que tudo; a proximidade com Deus.

Não dá para fugir do Gênesis 1 e 2. Não dá para não pensar na nossa parte no processo maravilhoso denominado Vida.

A “estrada” desgasta, ainda mais para um caseiro quase recluso como eu, nos afasta da intimidade do lar, nos prende a horários e situações variáveis, mas enriquece demais a nossa biografia e nos faz sentir e imaginar muita “vida pra viver”; além de trazer o ganha-pão, de certa forma nos faz exercitar “o pão nosso de cada dia”, de Mateus 6:9-13, a melhor oração que o Cristo nos deixou e o “basta a cada dia o seu mal”, de Mateus 6:34.

De tudo isso, resolvi fazer o primeiro volume das “top 10 canções da estrada”, parafraseando o glorioso filme “High-Fidelity”.

As “road songs” ocupam um lugar tão intenso nas minhas preferências que me atrevi a escrever uma em 2004, “Pela Estrada (Carga Pesada)” também em homenagem ao meu seriado de TV preferido, a qual insiro humildemente nesta relação, gravada com os amigos “de estrada” Lanchinho, Marcel e Douglas, este num devastador solo de guitarra.

À estrada e a todos os caminhos que levam a Deus ! Cheers

As Top 10 em uma linha

1. Canteiros – O gosto de framboesa que vem do mato. Música que me inspirou este post.
2. Pela Estrada (Carga Pesada)- minha primeira “road song” explícita.
3. Caminhoneiro – a voz do Rei ainda ecoa pelos cantos do país. “Eu seeeeeeeeeeiii...”
4. Bye Bye Brasil- melhor filme brasileiro, melhor retrato do Brasil contemporâneo.
5. A Vida do Viajante- 50 anos de chão, Luiz Gonzaga, o maior artista pop brasileiro.
6. Not Dark Yet- Bob Dylan, na estrada quase 365 dias por ano, até hoje.
7. Waiting On a Sunny Day- Bruce Springsteen, the Boss, esperando um dia de sol...
8. A Estrada- “…meu caminho só meu Pai pode mudar”…”
9. The Weight- na estrada o mundo e as épocas se interligam...
10. Clube da Esquina 2- “...de tudo se faz canção...”

Aden Santos

P.S. – Este post retrata possibilidades observáveis em viagens terrestres. Viagens aéreas para mim são apenas obrigações funcionais, jamais refletem opção, prazer, poesia e muito menos segurança e possibilidade para se pensar em outra coisa senão sair logo dali, com vida preferencialmente.