segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Roberto Carlos & Caetano Veloso


Muitos teimam em dizer o contrário, talvez por pura teimosia ou até por absoluta falta de assunto, porém, após assistir pela TV trechos do show de Roberto Carlos e Caetano Veloso interpretando canções de Tom Jobim, o maior compositor brasileiro de todos os tempos, a verdade é uma só : Roberto continua esbanjando classe e elegância nos seus 67 anos de idade.



Caetano trafega bem no campo das idéias, é ótimo compositor, além de sensível intérprete. Deve ser muito mais “gente boa” do que os malas que ficam idolatrando-no teimam em pintá-lo. Foi muito bem no show, embora, como parte de uma geração de artistas baianos que merecem comentário, parece viver eternamente numa sombra intimidadora de João Gilberto.



Roberto não. Apesar de ter começado sua carreira com um clone inesperado de João, absorveu a influência, transcendeu o ídolo, fundiu com elementos de sua personalidade, quase tão mitológica quanto e se estabeleceu, único.



Ainda hoje, quarenta e três anos após o marco inicial de sua carreira, o “rei”, o maior artista popular brasileiro de todos os tempos, permanece no topo.



Apesar de Caetano ter visitado outras vezes o repertório de Tom, desta vez parece que Roberto “viveu” as canções de maneira mais profunda. A bordo de sua extraordinária e habitual interpretação, mergulhou fundo em Dick Farney e, certamente, Tito Madi e acrescentou muitas às maravilhosas músicas de Jobim.



A gloriosa “Tereza da Praia”, imortalizada pelo dueto Dick Farney & Lúcio Alves, foi um momento emocionante demais; alegre, competente, inesquecível como a própria música de Jobim e Billy Blanco.



Existe uma linha fina que conduz a música; algo, como disse Johnny Alf e que dispensa (transcende) explicações :



“Os arautos da arte são intermediários de mensagens vindas do Cosmo.”



quarta-feira, 17 de setembro de 2008

DICK FARNEY E SÉRGIO RICARDO


Dick Farney, nome artístico de Farnésio Dutra e Silva (14 de novembro de 19214 de agosto de 1987) foi um cantor e pianista brasileiro.

Sérgio Ricardo, nome artístico de João Lutfi, (Marília, 18 de junho de 1932) é um cantor, cineasta e compositor brasileiro.

Existe muito a ser pesquisado e falado sobre estas figuras excelentes da nossa música popular.

Obviamente que os meios de comunicação de massa, comprometido demais com "celebridades" e factóides não farão isso, mas com a liberdade de pensar e buscar caminhos podemos ter acesso a suas obras.

Conheço os dois desde que tinha uns 12 anos de idade, pois minha mãe sempre falava neles ( e em outros grandes artistas também) e me interessei pela musicalidade de suas obras.

Dick é um precursor do movimento musical que desaguaria na bossa nova, com seu estilo elegante de cantar. Voz de barítono, grandes arranjos orquestrais, piano contido muito bem executado por ele mesmo, que também tinha seu trio de jazz e lotava casas de espetáculo pelo mundo afora. Um dos primeiros grandes artistas brasileiros a ter fama mundial, com turnês ao lado de Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Dave Brubeck, entre outros.

Sérgio Ricardo pertence á facção "esquerda" da bossa nova. Harmonicamente sofisticado mas muito mais voltado a temas sociais e políticos, preferência esta que lhe custou anos de exílio forçado em seu próprio país, censura e afastamento da mídia.

Dick Farney faleceu aos 66 anos, em São Paulo, ainda fazendo apresentações, para públicos menores, porém com grande qualidade musical, como mostra o registro do seu último show gravado em disco, no Inverno & Verão, em 1986. Uma canção de um de seus últimos discos, Feliz de Amor, de 1983, traz um retrato cantado da cidade de São Paulo nos anos oitenta:

"Na cordilheira da Paulista/O relógio do Itaú me diz/Que eu estou a 15 graus/De ser feliz..." Só quem passava por aqui neste período pode entender a elegância mágica destes versos.

Alguns de seus excepcionais registros podem ser conferidos neste link:

http://loronix.blogspot.com/search?q=Dick+Farney

Sérgio acaba de lançar o disco Ponto de Partida (capa na ilustração do post), depois de mais de vinte anos afastado da indústria musical. Que triste prejuízo para o povo brasileiro ! Mais uma vergonha para a nossa coleção.

Sua música não é óbvia; nem por isso é complexa. Elaborada, sim. Seus temas são o amor, a vida social, os fatos e personagens populares. Suas canções são cinematográficas, pois Sérgio também é cineasta.

Neste disco temos novas versões para composições consagradas e outras (ótimas) inéditas, como a ecológica Cacumbu e Dulce Negra. Obras inesquecíveis como Barravento, Enquanto A Tristeza Não Vem, Beira do Cais, Ponto de Partida e Deus e o Diabo Na Terra do Sol, do filme de Gláuber Rocha. É um banho de cultura e música popular de primeirérrima qualidade.

Confira no site:

http://www.biscoitofino.com.br/bf/cat_produto_cada.php?id=391

Poderoso antídoto contra "seus jorges", "fresnos", "klbs", "axés" e congêneres...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

JERRY GARCIA BAND



SEÑOR (TALES OF YANKEE POWER)/SENHOR (CONTOS DO PODER “YANKEE”)

“...Señor, señor, let's disconnect these cables,
Overturn these tables.
This place don't make sense to me no more.
Can you tell me what we're waiting for, señor?”
(Bob Dylan)

Senhor, senhor, vamos desconectar os cabos

Derrubar as mesas

Este lugar não faz mais sentido para mim

Você pode dizer o que estamos esperando, senhor ?


Esta canção de Bob Dylan, encontrada no álbum Street Legal, de 1978 e que tem, para alguns, a versão definitiva no disco da Jerry Garcia Band Live, de 1990, pode ser entendida de várias formas.



Pode tratar de escravidão, tratar da maneira como os sulistas dos EUA se referiam aos habitantes do norte, durante a Guerra Civil Americana, falar de algum tipo de invasão e subjugo, pode ser um desabafo diante de Deus numa situação limite; a poesia complexa de Dylan sempre foi muito ampla para ser compreendida e analisada de maneira simplista.



Os versos finais da música, que abrem este post, são avassaladores. As imagens difusas da letra criam um emaranhado de idéias e sensações que culminam neste pensamento síntese – desconectar os cabos (laços), derrubar as mesas pois este lugar (mundo que vivemos ?) não faz mais sentido para mim. Estamos esperando o quê ? (da vida, da existência, de Deus ? )-



Ou : o que estamos fazendo com a nossa herança Divina ? Até quando vamos esperar e, exatamente, pelo quê ? Vamos agir ou “o que” ?



O disco tratado neste post é um dos mais intensos e contundentes que ouvi em toda a vida !



Poderoso antídoto contra a indústria musical mentirosa de “dubladores” como Madonna (até gosto de algumas coisas dela...), Britney Spears, “farsas”, como Amy Winenhouse, “aberrações” como as bandas emo e todos os clones dos supra-citados afins, neste álbum não há overdubs (regravações e correções de estúdio), cenários mirabolantes, painéis de led de alta definição, etc...etc...etc...



Músicas com temas profundos, sérios, amorosos e espirituais convivem com improvisos longos e soltos, harmoniosos e inspirados. Nada está pré-gravado em pro-tools - programa de computador para gravação, o substituto moderno e mais sofisticado do “Play-back”-, ou sequencers; os músicos, conduzidos pela guitarra lancinante e hábil de Jerry se integram na música. Não há nenhum bobo-aparecido-carente-monopolizador-medroso-bundão querendo roubar a cena, pois a música é maior do que o músico, a canção é mais do que o compositor, assim como Deus é mais do que tudo e nenhum ser humano é mais do que outro ou nenhum homem é, foi ou será maior do que Jesus.



Amei este disco, pois a todo instante cresce a imagem da honestidade e da dedicação.



Jerry Garcia morreu em 1995, num centro de reabilitação para viciados, aos 53 anos de uma vida intensa. Sua voz é suave, profunda, sofrida mas em nenhum momento este show transmite algo que seja denso, pesado diante das constatações dos fatos da vida. Há louvores gospel, canções de Dylan (da fase Blood On The Tracks), soul da Motown, Beatles e blues de arrepiar para esquecermos os infantis “bluesinhos” tocados nos barzinhos brasileiros.



Selecionei algumas faixas do disco- no link final - e recomendo o DVD Jerry Garcia Band- Live At Shoreline- 9/1/1990 (capa do post), coisa de 18 anos atrás, para quem está interessado em algo nada manjado e bem diferente da miséria a que fomos obrigados a nos acostumar após o surgimento das gerações pós MTV, e de todo o entorno calhorda que isto, de mídia e entretenimento, se constitui.



Tentando atravessar os meus desertos e também em meio a dias de paz e alegria familiar, desejo só falar sobre música novamente.



Toda a minha gratidão a quem se dispôs a investir um tempinho especial lendo estas linhas...