Quarta-feira, 15 de junho, São Paulo. A noite, fria, de outono, até que deu uma colaborada. Dava para circular na rua sem congelar. Antes, uma parada de aquecimento no Veloso, com o amigo Ale, depois mais um pouco do característico tráfego intolerável da cidade e algumas voltas pela sempre confusa Vila Olímpia...
Via Funchal, por volta de 20:00 estava cheia de espaços, mas de repente, não lotou, mas encheu. Lá estava também o, não menos legendário amigo Maurício Nunes com o baterista do Aerosilva, Ricardo Salati, disfarçado de fotógrafo. O público de SP é frio, vai esquentando aos poucos...
O show não poderia ser melhor. Abriu com Dr Heckyl & Mr Jive, do álbum Cargo, do Men At Work. Do mesmo disco ainda foram: Overkill, No Sign Of Yesterday, It´s A Mistake e Blue For You (para meu deleite especial).
Desta vez o som estava limpo. A voz de Colin ainda soa maravilhosamente, trazendo tanto o timbre que muito ouvi na adolescência quanto o som maduro das fantásticas composições de sua carreira solo, cada vez mais criativa, competente e independente.
Colin trouxe os grandes sucessos do Men At Work, e algumas músicas menos conhecidas da banda, como No Restrictions, Underground e I Can See It In Your Eyes, que todo fã da banda sempre adora ouvir, fugindo do clichê básico de show apenas com hits.
A primeira da carreira solo foi I´ll Leave The Light On, de Transcendental Highways. Me impressiona muito a facilidade com que Colin toca acordes abertos (com cordas soltas) em digitações difíceis e soa tão claro e preciso; o som da guitarra, na maioria do show uma Gibson SG azul, com alavanca, ligada em um amplificador Fender Deluxe e em outro que não decifrei o nome, plugado numa caixa Marshall, estava espetacular.
Algumas músicas como Down By The Sea e No Sign Of Yesterday mostram o brilho característico da voz de Colin Hay, além de um ótimo tratamento de delays.
A tão aguardada, por mim, Are You Looking At Me ?, acabou não funcionando tanto porque as pessoas pareciam não conhecer a canção, que exige uma participação efetiva nas respostas do refrão. A interpretação, de tonalidade mais grave, acabou ficando meio sumida no instrumental da banda e, a esta altura, a falta de ânimo do público paulista, impressionou a vocalista Cecilia Noel, que pediu um pouco mais de energia e carinho. Logo mais ela seria atendida...
Do excelente álbum, recém-lançado, Gathering Mercury, um dos melhores de sua carreira, foram quatro músicas: a emocional Send Somebody, a jazzista Family Man, o espetacular reggae-pop Far From Home (magistralmente executado por toda a banda) e a faixa título, de conteúdo mais existencialista.
Seria muito melhor se o disco fosse conhecido pelo público, muito mais interessado em explodir nos hits marcantes do Men At Work do que em entender as músicas novas, mas esta é uma consequência de ser um artista independente; não rola verba para pagar jabá para as rádios e as gravadoras, em geral administradas por quadrúpedes, não lançam os discos-solos de Colin por aqui há anos. “Problema” de quem não conhece...
Após uma demonstração inequívoca de babaquice, alguns cretinos se pegaram na platéia e, aproveitando da situação, colei no palco e pude assistir, bem de pertinho, um dos meus maiores ídolos em sua brilhante performance. Concentrado, mais para tímido do que para comunicativo, mas muito respeitoso com sua arte e com seu público. Ao seu lado, a ótima cantora Cecilia Noel, sua esposa peruana, arriscava um português para se comunicar com o público. Um único senão, seu microfone estava baixo e dificultava a compreensão do que dizia.
O grande climax da noite teve início com Who Can It Be Now ?, onde o tecladista e saxofonista Michael Ghegan conquistou o público com uma performance extrovertida e competente de um dos maiores clássicos da música pop, canção que, aliás, inspirou meu amigo Ale Paoli, que foi comigo ao show, a aprender a tocar sax.
Overkill, It´s A Mistake, Down Under e Be Good Johnny, encerraram bombasticamente a apresentação, num clima intenso e com alguns decibés a mais de som e energia
Um “tris”, com Waiting For My Real Life To Begin, Beautiful World e a apoteótica Into My Life, estrondoso sucesso da Colin Hay Band, do discoWayfaring Sons, de 1990, deram a palavra final de um show perfeito, repleto de algumas das mais importantes e inesquecíveis melodias do século XX, na voz de seu autor e intérprete.
Ao final, ainda peguei uma das palhetas de Colin, artefato este, que nem preciso dizer, ficará guardado, não só num local muito seguro como no mais valioso local do meu baú sentimental.
Muito obrigado, Colin Hay, por sua música extraordinária. Certamente, o tipo de artista que eu gostaria de ter sido...
Mais informações sobre set list e fotos - http://tinyurl.com/44us6gm
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