AS MÚSICAS DO MEU CORAÇÃO-THE BEST OF VOL I

Cake Walking Studios, por volta de 2002

Cabotinismo ? Melancolia ? Vaidade ? Saudosismo ? Amor ? Irrealização ?

Não sei responder o porquê desta visita ao meu passado musical, mas acordei hoje pensando em montar um “best of” de todas as minhas gravações.

Levando-se em conta apenas as que possuem certa qualidade de áudio e performance, são quatro discos : Worubu (1993), o qual considero fraquinho, inconsistente, porém embrionário de algumas fusões entre o rock e a MPB que se tornou grande "descoberta" nos anos seguintes; Meu Bem, o primeiro solo (2000), este já consistente, emocional, orgânico, inspirado e produzido de acordo com a minha visão musical; Vilson Dub (não lançado comercialmente, 2002), experimental, amplo, totalmente voltado para o reggae e suas influências e que marca o início da parceria produtiva com o Daniel; compusemos, gravamos, tocamos e produzimos o disco; e Vertical Bonanza (2007), para mim o ápice criativo até agora. Foram 28 músicas para se escolher 14, auge da parceria iniciada em Vilson Dub e expansão dos temas tratados: do mais profundo espiritualismo ao mais “corriqueiro” observar da vida.

Neste momento vejo/vivo um vácuo. Ouço um retumbante e desafiador : O que fazer daqui por diante ?

Muito pouco deste material é conhecido. Aliás, ele é quase todo inédito, pelo menos comercialmente falando, pois o sucesso nessa área não foi a tônica destes anos e sim o amor e a necessidade de compor e criar. Isso incomoda ? Não...e sim...se é que uma pergunta pode ter duas respostas.

“...mas buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas...”- maravilhoso Sermão da Montanha-Mat 5-7, não dá para barganhar, precisa ser conhecido e mais, praticado...-

Não sei se busquei ou não, se busquei errado, enfim, ainda me sinto evoluindo e crescendo em todos os níveis. Quando iniciei tudo isso, lá pelos meados dos anos 80 era um adolescente tolo, arrogante e despreparado. Mesmo após o início “profissional”, em 1991, era fraco, ruim, porém cheio de idéias e boa vontade. De uma certa maneira agradeço por “nada” de muito significativo ter acontecido naqueles dias, pois certamente minha tolice colocaria tudo a perder.

Momentos bons, os de criação e performance. O resto deixa pra lá, como dizia uma música bem antiga e “ruizinha” que possivelmente meu amigo Guga deve lembrar.

Certamente vejo este trabalho todo com muita alegria e, hoje, ouço e reconheço o tanto de emoção, inspiração e evolução que estas gravações contém. Coloquei na seleção algumas inéditas, demos e outtakes, montando um panorama afetivo com o que de mais tocante consegui criar até hoje, sempre com o auxílio inestimável de tantos amigos maravilhosos. Injusto seria nomeá-los, pois são muitos e a memória trairia alguns.

Falando em memória, dedico especial carinho à lembrança de Baixinho, percussionista dos Novos Baianos, que gravou comigo os discos Meu Bem e Vilson Dub, falecido em 2003.

Estão todos aí, de alguma forma, representados : O Vaca de Pelúcia, (original e Mk II, este último apenas uma experiência errante), Worubu, Vilson Dub, Vertical Bonanza, tantos amigos queridos e até Rita Lee & Danilo Caymmi, na divertidíssima gravação de O Que É Que A Baiana Tem ?, lançado no álbum comemorativo aos 80 anos de Dorival Caymmi, em 1994.

Obrigado, Senhor pela inspiração que sempre veio de Ti e, embora eu não tivesse consciência, me trouxe até aqui. Que daqui para frente, meus passos sejam os Teus passos e que todas as músicas (e todas as que vierem) encontrem o destino que elas precisam ter...


http://www.badongo.com/file/7918083

P.S.- as músicas podem ser baixadas livremente mas todas estão devidamente garantidas quanto ao direito autoral.

ALEGRIA DE SER BRASILEIRO !!! (NÃO, NÃO É UM DELÍRIO...!)

Não há nada mais internacional do que o quintal da nossa casa !

Diante dessa máxima, concluímos que o mais autêntico que um músico possa ser, maior será seu alcance e extensão de sua obra.

Claro que não é uma regra exata, mas esse maravilhoso DVD de Alceu Valença nos deixa exatamente essa mensagem.

Homenageando os 100 anos de história do frevo, Alceu promoveu um show inesquecível no Marco Zero de Recife para cerca de 140.000 pessoas. Chega a ser impressionante o resultado das filmagens !

Uma verdadeira festa popular de alegria, sem o apelo nojento e fácil do “carnavalismo”.

O show não é só frevo, mas até poderia ser. Sem os standards tradicionais de Alceu (com exceção a Tropicana, em ritmo de frevo, no bis) e repleto de músicas inspiradas pelo regionalismo pernambucano, e algumas do álbum Na Embolada do Tempo, o DVD apresenta ritmos suaves, contagiantes e melodias típicas de um artista amadurecido e ainda no auge.

Arranca lágrimas de tão verdadeiro e espontâneo que é.

No palco não há pro-tools, não há imposturas exceto genuína arte brasileira popular, músicos excelentes e um artista que não deitou na rede preguiçosa do falecimento em vida. Sua voz ainda corta e sua presença cênica ainda não é, sequer, imitada por nenhum “novo gênio da mídia empurratista”.

A metaleira “pula pra fora”, pegando a gente pelo esôfago. Perfeita, melodiosa e extremamente bem arranjada.

Deu até certa tristeza de estar fora dessa festa, e olha que não sou dos mais festeiros cidadãos deste país !

Segue um link para audição do CD, mas a conferência do DVD, com mais músicas e extras, é absolutamente recomendável, pois nos ajuda, apesar dos oficiais esforços contrários, a termos orgulho e não vergonha do Brasil.


http://umquetenha.blogspot.com/2007/01/alceu-valena-marco-zero-ao-vivo-2006.html

A PROCURA DE UM NOVO "TIME OUT OF MIND"...

Lembro, há dez anos, aproximadamente: tinha 27 anos.

Talvez a proximidade dos 30 (hoje a proximidade é dos 40), fracassos, equívocos, frustrações pessoais e profissionais me fizeram desejar vender todos os meus equipamentos e instrumentos. Foi por pouco que não vendi, por pouca habilidade para vendas ou, certamente, por uma Condução Superior que desejava algo mais de mim. Um aperfeiçoar, uma volta por cima, deixar aquela angústia juvenil para trás e me capacitar para uma maior. A angústia dos adultos...

Muita coisa passou e para quem pense que quero reclamar da minha vida; nada disso : Sempre tive tudo, e muito mais do que necessário para viver. Tive boa educação, boa alimentação, todos os cuidados, mimos, amores e alegrias.
Hoje mais ainda, bom casamento, algumas coisas melhoraram um pouco com as finanças, pais maravilhosos, ativos e operantes, mas...eis que certa sensação de frustração, fracasso e angústia parece estar por perto.

As tais aflições que o Cristo falou. Nem sempre tão óbvias e aparentes.

Como em 1997, talvez procure pelo Time Out Of Mind deste momento. Lembro que naquela época, este espetacular álbum de Bob Dylan “salvou-me a vida”. Talvez no eco das palavras deste extraordinário poeta humano encontrei a ressonância de tudo o que precisava ouvir naqueles dias.

Decidi ir para estúdio, gravar meu primeiro disco-solo, tentar mais uma vez ser relevante no mercado da música. Bem menos preocupado com o retorno, com o reconhecimento e numa nova Direção Superior, novas coisas foram acrescentadas. Além do disco, mais uns cinco anos de trabalho em outros discos. Descobri um novo caminho para as minhas habilidades e novas setas para um futuro que me trouxeram até o que sou hoje. Com gratidão !

Muitas coisas não funcionaram, outras funcionaram muito bem e hoje, mesmo que não pense mais em vender nada e desistir dos meus instrumentos, encaro o dom da música de uma maneira muito particular e que pouco pode ser descrita em palavras. Aprendi muito mais a servir com meu dom do que a ser servido, aprendi o significado de louvar através da música, mas admito que um novo “Time Out Of Mind” cairia bem. Mas como esperar é preciso, tempo da nossa vontade é diferente do tempo de “Deus”...

Um disco estimulante pode gerar mais anos e anos de inspiração. Sinto falta das “andorinhas”, pois sei que uma só não faz verão, embora veja várias voando por aí, sem muita direção.

Ter bom ânimo e vencer o mundo. Difícil as vezes, impossível o tempo todo. As oscilações nos atingem em cheio !

Mas as palavras do Cristo nem sempre são para trazer facilidades, mas para ser o parâmetro num mundo sem parâmetros, trazer esperanças num mundo sem esperanças. Somente Ele cumpriu o ciclo e, apesar de mim, pode me ajudar a cumprir também.

Tenho certeza que o propósito da existência não sofrerá nenhuma alteração somente porque eu não "concordo" com uma parte ou outra. Isso é uma valiosa lição aprendida e tem muito mais relação com a verdadeira humildade do que eu poderia imaginar.

“I´m walking/Trough streets that are dead...”. Ouçam o disco !


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