quarta-feira, 3 de setembro de 2008

JERRY GARCIA BAND



SEÑOR (TALES OF YANKEE POWER)/SENHOR (CONTOS DO PODER “YANKEE”)

“...Señor, señor, let's disconnect these cables,
Overturn these tables.
This place don't make sense to me no more.
Can you tell me what we're waiting for, señor?”
(Bob Dylan)

Senhor, senhor, vamos desconectar os cabos

Derrubar as mesas

Este lugar não faz mais sentido para mim

Você pode dizer o que estamos esperando, senhor ?


Esta canção de Bob Dylan, encontrada no álbum Street Legal, de 1978 e que tem, para alguns, a versão definitiva no disco da Jerry Garcia Band Live, de 1990, pode ser entendida de várias formas.



Pode tratar de escravidão, tratar da maneira como os sulistas dos EUA se referiam aos habitantes do norte, durante a Guerra Civil Americana, falar de algum tipo de invasão e subjugo, pode ser um desabafo diante de Deus numa situação limite; a poesia complexa de Dylan sempre foi muito ampla para ser compreendida e analisada de maneira simplista.



Os versos finais da música, que abrem este post, são avassaladores. As imagens difusas da letra criam um emaranhado de idéias e sensações que culminam neste pensamento síntese – desconectar os cabos (laços), derrubar as mesas pois este lugar (mundo que vivemos ?) não faz mais sentido para mim. Estamos esperando o quê ? (da vida, da existência, de Deus ? )-



Ou : o que estamos fazendo com a nossa herança Divina ? Até quando vamos esperar e, exatamente, pelo quê ? Vamos agir ou “o que” ?



O disco tratado neste post é um dos mais intensos e contundentes que ouvi em toda a vida !



Poderoso antídoto contra a indústria musical mentirosa de “dubladores” como Madonna (até gosto de algumas coisas dela...), Britney Spears, “farsas”, como Amy Winenhouse, “aberrações” como as bandas emo e todos os clones dos supra-citados afins, neste álbum não há overdubs (regravações e correções de estúdio), cenários mirabolantes, painéis de led de alta definição, etc...etc...etc...



Músicas com temas profundos, sérios, amorosos e espirituais convivem com improvisos longos e soltos, harmoniosos e inspirados. Nada está pré-gravado em pro-tools - programa de computador para gravação, o substituto moderno e mais sofisticado do “Play-back”-, ou sequencers; os músicos, conduzidos pela guitarra lancinante e hábil de Jerry se integram na música. Não há nenhum bobo-aparecido-carente-monopolizador-medroso-bundão querendo roubar a cena, pois a música é maior do que o músico, a canção é mais do que o compositor, assim como Deus é mais do que tudo e nenhum ser humano é mais do que outro ou nenhum homem é, foi ou será maior do que Jesus.



Amei este disco, pois a todo instante cresce a imagem da honestidade e da dedicação.



Jerry Garcia morreu em 1995, num centro de reabilitação para viciados, aos 53 anos de uma vida intensa. Sua voz é suave, profunda, sofrida mas em nenhum momento este show transmite algo que seja denso, pesado diante das constatações dos fatos da vida. Há louvores gospel, canções de Dylan (da fase Blood On The Tracks), soul da Motown, Beatles e blues de arrepiar para esquecermos os infantis “bluesinhos” tocados nos barzinhos brasileiros.



Selecionei algumas faixas do disco- no link final - e recomendo o DVD Jerry Garcia Band- Live At Shoreline- 9/1/1990 (capa do post), coisa de 18 anos atrás, para quem está interessado em algo nada manjado e bem diferente da miséria a que fomos obrigados a nos acostumar após o surgimento das gerações pós MTV, e de todo o entorno calhorda que isto, de mídia e entretenimento, se constitui.



Tentando atravessar os meus desertos e também em meio a dias de paz e alegria familiar, desejo só falar sobre música novamente.



Toda a minha gratidão a quem se dispôs a investir um tempinho especial lendo estas linhas...






Um comentário:

Mario Ferrari disse...

você deve saber que em arte, digerir e devolver a antropofagia é demorado mas purificador. O tempo garante a separação entre o joio e o trigo.
Amanhã saberemos o que de hoje se sustentará nas próximas décadas como agora sabemos o que tem lastro pra ficar em pé das décadas passadas!
Um grande abraço.
Ah muito feliz com suas visitas em meu blog!
Mario