sexta-feira, 6 de julho de 2007

AMOR DEVOÇÃO REDENÇÃO



Em tempos de desconstrução da indústria musical no mundo e do pleno trafegar de “celebridades” pelo nosso cardápio principal de opções, fica meio “retrô” falar sobre a música como uma ligação espiritual legítima do ser humano, mas é exatamente por aí que começo a escrever neste blog.
Desejando não ser prolixo ou enfadonho vou direto aos pontos.

Antes de ser uma realidade possível de ser ouvida, compreendida e apreciada pelas pessoas a música teve sua origem em um momento único, em alguma experiência vivida por aquele que a criou; e o músico (ou o compositor) busca a sua vida inteira encontrar o melhor canal de comunicação com a Fonte dessa inspiração.
Observações, impressões, casos de amor ou ódio, insatisfações, angústia, melancolia, alegria...
Incontáveis sentimentos que se convertem em ritmos, acordes, notas, modos e frases; musicais, literárias ou músico-literárias; pinturas do universo particular daquele que traz as informações do nada (ou do Tudo ?) para a nossa compreensão auditiva.

Então, a música é inicialmente espiritual, uma comprovação imediata de que o Homem não necessita de “religação” -o conceito subliminarmente embutido em religião - pois está constantemente ligado a Deus, ao Universo, à Fonte produtora de todo o movimento denominado Vida.
Quando a primeira intenção é “homenagear” essa conexão primária e essencial da criação, a música se torna uma devoção – o que pode limitadamente ser chamado de louvor – e uma redenção, onde o músico “se rende” a uma força superior maior que ele, exaltando-a, “libertando-se” de seus cativeiros físicos e espirituais .
Uma nova relação de amor se estabelece. Sem medidas, sem limites : ”...o amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece...não busca os seus interesses...”. Essas explanações sobre o amor, que podem ser lidas na carta de Paulo aos Coríntios (I Cor 13), já inspiraram centenas de artistas no mundo, dentre eles Renato Russo, e certamente será fonte de muitos que procuram entender profundamente do que trata esse sentimento tão falado, chafurdado e explorado mas muito pouco vivido e experimentado pelo ser humano.

Fecho com duas indicações maravilhosas que têm as características do assunto aqui escrito:

Love Devotion Surrender, dos guitarristas Carlos Santana e John McLaughlin, por sua vez inspirado na obra-prima A Love Supreme, de John Coltrane, feito em honra a uma experiência espiritual, com Deus, de um dos maiores músicos da história.
São discos que levam a experiência da música, da meditação e da espiritualidade a parâmetros poucas vezes explorados.
Que a grande Inspiração do Universo seja o mapa para uma jornada nova, que pode levar a um novo estado de consciência, mais próximo de Deus e mais distante do noticiário da televisão e das contas por vencer.
Aden Santos

2 comentários:

Luiz disse...

Eis aí uma díada que é, talvez, universal: música-espíritualidade. Seja com cantos, seja com instrumentos, sejam ambos, seja uma pessoa, seja uma multidão, seja apenas o mestre, sejam os discípulos, seja o profeta ou o simples indivíduo, seja até mesmo recheada de silêncios, talvez a expressão musical seja a língua "dos anjos" a que o Apóstolo se referiu, no sentido de que parece ser a melhor e mais profunda expressão da experiência do indivíduo vivo finito com a fonte infinita da Vida. Em que linguagem pode melhor expressar o ser humano a vivência da perfeição? Em que outra expressão pode ele colocar todo o seu ser em expressão simultânea de corpo, memte, emoções e essencialidade? Talvez seja por isso mesmo que na tradição bíblica os anjos tantas vezes apareçam cantando para glorificar as manifestações divinas.

Aden Santos disse...

Talvez seja por isso, caro Luiz, que a busca pela melhor expressão da forma com que a musicalidade habita na minha compreensão, seja uma busca tão intensa na minha vida. Eu não sei, por enquanto, expressar tanto essa ligação com o Infinito que não seja através da música, e qualquer novo veículo para isso me traz muita alegria.
Me incomoda muito ter tantas canções novas e pouco ter feito com elas em termos de trabalho efetivo com músicos e bandas, por isso, nem q seja através de links e comunicação "boca-a-boca", já é um pequeno alento começar a compartilhar essa experiência com quem desejar.