segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

HISTÓRIAS COM JORGE BEN

Box Salve Jorge !!!
1994, camarim do Olympia


Minha história com Jorge Ben começa lá pelos idos de 1977, 1978, com o disco Salve Simpatia.


Sempre adorei Jorge Ben e suas composições originalíssimas. Mesmo nas auto-repetições, plágios próprios e maneirismos. Esse “looping” criativo da sua mente faz parte da música desse carioca, nascido em 1942.


Desde que o vi armado com uma guitarra Alembic, disparando aquele ritmo animalesco, descobri do que realmente gostava na vida. Eu queria tocar “aquela guitarra”, queria conhecer “aquele cara”. Já pensou ? – Tocar com aquele cara, a convite do próprio ?.


Jorge Ben era um sonho para mim. Ia há diversos shows. O primeiro deles, por volta de 1981, no Clube Atlético Aramaçan, em Santo André. Impressionantes duas horas e meia de show. Época do disco Bem Vinda Amizade, com os clássicos “Todo Dia Era Dia de Índio” e “Santa Clara Clareou”. Eu ainda ouço os ecos daquele show na minha memória e persegui-os por todos os outros shows do Jorge em que estive.


Aeroanta, Dama Xoc (onde ganhei um boné das mãos do próprio), Palace, Sesc Pompéia...


Até que num show no vão do MASP, por volta de 1991, atirei uma fita cassete no palco com algumas gravações bem caseiras da minha primeira banda – O Vaca de Pelúcia-. Estava começando a querer entrar no “negócio” da música e tive a intuição de cometer este ato “deselegante”.


Alguns movimentos rumo aos palcos paulistanos e aos caminhos que existiam na época para um jovem se aventurar no meio musical, descobri que Jorge havia ouvido a fita, se interessado pelo conteúdo e pedido ao produtor musical Pena Schmidt – o velho Pena - que fosse atrás daquela banda.


Coincidente, havia conseguido uma data na Disco Reggae Night, do meu amigo Otávio Rodrigues, no lendário Aeroanta, em SP para me apresentar com a, então, primeira banda brasileira de dancehall – reggae com influência eletrônica -. Um outro jovem produtor, Dudu Marote, a pedido do Pena foi ouvir nossa banda e ao final do show se apresentou a nós:


- “O Jorge Ben, (que já se tornara Jorge Ben Jor), falou de vocês, vamos gravar algumas coisas ?”


Depois disso, muitas coisas legais aconteceram e me levaram para perto de Jorge, como passei a chamá-lo nas vezes que o encontrei. Foram várias; algumas bem interessantes:


Após um show no Palace, na época do estouro de W-Brasil, fui ao camarim, se não me engano com o Guga e o Neto. Éramos esperados, entre tantos convidados famosos, Jorge dispara: “- Meus amigos do Vaca de Pelúcia”. O camarim cheio de gente teve que parar para ver os meninos entrarem e cumprimentarem Jorge, aquela altura um jovem senhor de quase 50 anos.


Da outra vez, Jorge me viu na platéia e me chamou ao palco.”- Meu amigo do Vaca de Pelúcia, cadê ?”. E lá ia eu, com minha habitual desenvoltura e swing no pé, dançar o “miudinho”.


Em outras ocasiões a coisa foi mais séria. No Sesc Pompéia, Jorge me apontou sua Telecaster que estava de stand by e pediu para eu subir ao palco. Fiquei lá tocando umas três músicas finais do show. Hoje lamento não ter, àquela época, a mesma habilidade e desenvoltura com o instrumento que tenho hoje, mas era muito emocionante para mim, afinal estava lado-a-lado com meu ídolo no seu habitat natural, o palco.


O último encontro bacana ocorreu no primeiro de maio de 1992 (ou 3 ). Abrimos a apresentação de Jorge Ben Jor, um dos maiores sucessos da época, no programa Bem Brasil, no Sesc Interlagos. Ao final do show de Jorge, ele nos chama ao palco para cantarmos com ele W-Brasil. E não era só isso, no Taj Mahal pediu para que ficássemos mais um pouco. Foi uma das maiores emoções da minha vida. Segurava na mão de Jorge, com força de garoto, desejando que aquele momento fosse eterno; e de certa forma, foi. “De de de re de de de de de re de...”. A letra não era difícil, mesmo que fosse, eu conheceria de cor, como conheço quase todas as letras de Jorge.


Ele ainda iria citar-nos nominalmente como banda promissora no Programa Livre, de Sérgio Groissman, o que abriu portas para irmos tocar no programa.


Depois os ventos mudaram, sopraram para outros lugares. Reencontrei-me com ele por volta de 1994 (data da foto que ilustra este post) nos camarins do Olympia, num show beneficente ao baterista Netinho, dos Incríveis que se recuperava de um câncer de garganta.


Por razões diversas, a profecia de Jorge não se confirmou. Acabamos com O Vaca de Pelúcia e com isso pulei para fora do trem. Hoje sei que quando o trem passa a gente precisa embarcar, sem hesitar, senão outros chegam, te atropelam e pegam o lugar.


Mas tudo isso é documentado, registrado e gravado. Não é devaneio da minha cabeça, não. São histórias que sempre deixei guardadas, mas as vezes vou soltando trechinhos...


Tudo isso para falar deste lançamento aguardadíssimo para mim:


O relançamento remasterizado dos treze primeiros discos de Jorge Ben !!!

Não que eu não tivesse os originais da Série Colecionador, lançado no início dos anos noventa, mas reconheço que eram versões pobres, com sonoridade duvidosa. Muitos deles também tenho em vinil. Talvez eu venda, talvez eu doe, talvez eu guarde, não sou bom negociante, sei lá...mas agora estão todos juntos, capas originais, som atualizado e um CD duplo de raridades que acompanha a caixa.


A figura atual de Jorge Ben Jor é um tanto hermética. Ouço histórias meio bizarras e esquisitas de pessoas que trabalharam com ele, mas para mim, mesmo que a persona Jorge Ben Jor seja um tanto menos interessante do que o original Ben, guardo aqueles momentos preciosos onde ele, com muita espontaneidade e generosidade, acolheu minha música com admiração e reverência. Fez a parte dele, talvez eu não tenha feito direito a minha...


Mas eu ainda estou vivo !!!


Salve, Jorge !!!


4 comentários:

prztz disse...

faaaaaaala Aden meu mano. Essa parte q o Pena tinha pedido pra eu ouvir vcs por causa do Jorge eu não lembrava. Ou não sabia, sei lá. A memória falha.

Pelo q eu lembro, o Pena tinha me pedido pra ir lá conversar com vcs por causa de uma matéria na Folha.

Mas saber q teve a ver com vcs mandarem uma demo pro Jorge me deixa mais maravilhado com as voltas q o mundo dá.

Abração, grande parcero.

dudu

Aden disse...

Teve a matéria na Folha também, coisa do Otávio, mas o começo foi com o K7 "arremessado".

Abraço e obrigado por corrobar a história...

aden disse...

corroborar eh a forma q queria digitar, mas falhou...

Welson Marinho disse...

Aden,
Você é realmente uma pessoa espetacular. Vamos convivendo nesta caminhada e a cada momento vamos nos espantando com a sua maneira de ser. Parabéns! Muito legal esta sua história.