quarta-feira, 8 de agosto de 2007

MEMÓRIAS DA ESTRADA #1

Caravana Rolidei, trupe do filme Bye Bye Brasil, de Carlos Diegues.


Estradas têm sido um capítulo especial na minha vida, teriam de ser páginas e mais páginas de histórias e impressões vividas em muitos anos seguidos de movimentos pelos caminhos do nosso Brasil imenso.

Durante o último fim-de-semana, a viagem até Aracruz-ES, da turnê 2007 de Wanessa Camargo, foi muito rica para reflexões e pensamentos típicos da estrada, afinal em quinze horas para ir e mais quinze para voltar a gente vive muita coisa, imagina muita coisa, lembra muita coisa; nosso baú afetivo fica revirado e ela, sempre ela, a música, não deixa de marcar sua presença absolutamente necessária (viva o Koss Porta-Pró que o Lanche me deu !)

Tenho vivido uma proximidade com Deus muito verdadeira e agradável nestes momentos, pois nas viagens estamos expostos: lidamos com situações novas, imprevistos, emoções, alegrias e tristezas. Consigo “sentir” Deus nas paisagens, nas estrelas todas mortas que brilham vivas e contemporâneas ao nosso olhar, até mesmo naqueles momentos do trabalho em que a gente pensa : “huuum, vai dar merda...”, sempre alguma força reparadora e restauradora surge materializada da oração constante para que tudo corra bem.

Tenho estado muito mais próximo a esta conexão direta com a Divindade, com o Infinito, com a Realidade do que em todos os momentos de, teoricamente, maior foco espiritual, onde os atos parecem ser rituais repetitivos de insegurança e de alívio, esvaziados desse componente que a estrada traz para a nossa vida: o momento real, o instante único, o contato com o “próximo”, que as vezes só veremos – e nos verá – naquele evento, naquele dia.

É possível ver o “trabalho de Deus” na natureza, nos animais, nas mudanças climáticas, nas reações incontidas dos fãs e dos brasileiros de cada lugar, distintos mas muito semelhantes nas suas práticas, atitudes, feiras agropecuárias, rodeios, praças públicas, vontade de agradar e de serem pedantes, mas sempre apaixonados ! -...nas vans e nos hotéis...- pedaços de brasil que formam uma nação, nitidamente em formação, mas muito arraigada em conceitos equivocados que jamais terão solução, enfim : Brasil, chão, pó e poeira !

Divagando pelas paisagens que passam velozes ao nosso olhar, pensei nas maravilhosas canções da estrada, músicas que remetem a todos esses sentimentos escritos aqui, histórias particulares de cada um, potencializadas pela observação das grandes fazendas, planícies, postos, restaurantes, caminhões, paixões, cabarés, acidentes e mais do que tudo; a proximidade com Deus.

Não dá para fugir do Gênesis 1 e 2. Não dá para não pensar na nossa parte no processo maravilhoso denominado Vida.

A “estrada” desgasta, ainda mais para um caseiro quase recluso como eu, nos afasta da intimidade do lar, nos prende a horários e situações variáveis, mas enriquece demais a nossa biografia e nos faz sentir e imaginar muita “vida pra viver”; além de trazer o ganha-pão, de certa forma nos faz exercitar “o pão nosso de cada dia”, de Mateus 6:9-13, a melhor oração que o Cristo nos deixou e o “basta a cada dia o seu mal”, de Mateus 6:34.

De tudo isso, resolvi fazer o primeiro volume das “top 10 canções da estrada”, parafraseando o glorioso filme “High-Fidelity”.

As “road songs” ocupam um lugar tão intenso nas minhas preferências que me atrevi a escrever uma em 2004, “Pela Estrada (Carga Pesada)” também em homenagem ao meu seriado de TV preferido, a qual insiro humildemente nesta relação, gravada com os amigos “de estrada” Lanchinho, Marcel e Douglas, este num devastador solo de guitarra.

À estrada e a todos os caminhos que levam a Deus ! Cheers

As Top 10 em uma linha

1. Canteiros – O gosto de framboesa que vem do mato. Música que me inspirou este post.
2. Pela Estrada (Carga Pesada)- minha primeira “road song” explícita.
3. Caminhoneiro – a voz do Rei ainda ecoa pelos cantos do país. “Eu seeeeeeeeeeiii...”
4. Bye Bye Brasil- melhor filme brasileiro, melhor retrato do Brasil contemporâneo.
5. A Vida do Viajante- 50 anos de chão, Luiz Gonzaga, o maior artista pop brasileiro.
6. Not Dark Yet- Bob Dylan, na estrada quase 365 dias por ano, até hoje.
7. Waiting On a Sunny Day- Bruce Springsteen, the Boss, esperando um dia de sol...
8. A Estrada- “…meu caminho só meu Pai pode mudar”…”
9. The Weight- na estrada o mundo e as épocas se interligam...
10. Clube da Esquina 2- “...de tudo se faz canção...”

Aden Santos

P.S. – Este post retrata possibilidades observáveis em viagens terrestres. Viagens aéreas para mim são apenas obrigações funcionais, jamais refletem opção, prazer, poesia e muito menos segurança e possibilidade para se pensar em outra coisa senão sair logo dali, com vida preferencialmente.


4 comentários:

Guga disse...

muito legal este post! precisamos divulgar melhor este blog. Vou colocar novamente na Cristinet e no grupo de instrutores...Quem sabe daqui sai algum livro?
Quero sempre poder incentivar seu talento criativo e legítimo, em uma época tão árida e carente de reflexão...
Valeu ! Não deixo de agradecer ao nosso Mestre pela sua vida...
fraternalmente,
guga

Aden Santos disse...

A família sempre agradece a atenção dispensada...

Anacris disse...

Oh meu caro Aden,
Nao subestime o poder do vôo - essas viagens podem sim trazer essas experiências que você descreveu nas suas "15 horas pra lá e 15 pra cá"...rsrs. Compartilho do seu sentimento em viagens terrestres, até porque, como "boa sagitariana" que sou, faz parte do meu andar, o viajar. Mas as viagens aéreas, as minhas 15 horas para aí e 15 para cá...rsrs... também têm sido assim extremamente ricas, tanto na reflexao do "chegar com vida", como nas lembrancas, nos sonhos e nos planos, no meditar o ser humano e na inevitável percepcao 'desses poderes que chamamos Deus' - citando um amigo meu, compositor de talento e sensibilidade ímpares. ;-D

Aden Santos disse...

Entendo bem o q vc escreveu, mas talvez não esteja tão próxima da "barbárie" que o governo brasileiro, associado aos velhos hábitos de transformar quase tudo em corrupção e "tabajarice" na nossa amada terra, têm feito com o sistema aéreo brasileiro. Está dando medo até de passar pelo aeroporto. Beijo !